sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Me dá que eu te dou!

Quem não gosta de receber um presente? Ainda mais aquele que queria tanto ou precisava muito. E declaração de amor? Da pessoa por quem estamos apaixonados então? Melhor ainda quando achamos que não somos correspondido e, de repente, um: “Estou louca por você!”. E quando a gente brigou com alguém que gosta e está naqueles silêncios doloridos onde um não fala com o outro, mesmo querendo? Então, a outra pessoa vem e diz: Vamos parar com isso?! E pedido de desculpas? A sensação é fantástica. Primeiro a certeza de que estava certo, segundo, de carinho, porque a pessoa que pede perdão assim o faz porque se importa com a gente. Quebra de orgulho ou de um galho. Só uma ligação, uma hora, um dia e sua vida pode mudar se alguém lhe ajudar. Ajudar! Como é bom receber ajuda. Carro quebrou numa estrada deserta. Indicação para um trabalho melhor. Algo emprestado. Problemas familiares ou de relacionamento. Depressão. É tão bom ter aquilo que a gente precisa, nem que seja um pouquinho de atenção.
Agora vamos inverter a situação. Quando foi a última vez que você quebrou o galho de alguém, pediu desculpas sinceras ou deu um presente sem data especial? Já fez uma declaração de amor? Seja sincero com você mesmo. Na escola para a coleguinha quando tinha seis anos? Fala sério!
O ser humano é muito engraçado: quer amor, atenção, oportunidades, mas não quer dar. Quer ver todas suas necessidades sanadas, porém quando alguém vira pra pedir ajuda: “Pô to sem tempo”. “Claro que posso, já te ligo” e desliga o celular ou verifica a bina antes de atender. “Queria muito te ajudar, mas tenho missa de um mês de falecimento da Bisavó da sobrinha da prima do irmão da minha vizinha”
É o jogo de cintura pra driblar qualquer trabalho que não seja em benefício próprio. É egoísmo? Não! É insegurança. Natural num país de terceiro mundo onde o complexo de inferioridade é latente desde que nascemos. Somos um país pobre, mas não somos incapazes. A principal riqueza que nos falta é a de espírito, porque nos achamos ridículos fazendo declarações, bobos dando presentes à toa, inferiores pedindo perdão, idiotas por ajudar alguém, medíocres por dar o braço a torcer. E, se admitirmos um erro, certamente descobrirão que somos um fracasso. Quanta bobagem no mundo.
Todas as atitudes que possam exaltar o outro vão contra a principal necessidade proveniente da competição capitalista da sociedade atual: diminuir ao outro para garantir sua própria auto-estima. Aliás, numa sociedade hipócrita, de valores tão equivocados, ser autêntico é um ato de coragem. Por tudo isso, dói quando a gente vê o outro feliz, por isso a gente se nega a elogiar qualidades e reconhecer talentos. Por isso a inveja. Então somos falsos, trapaceamos, pisamos, mentimos, agredimos, corrompemos, subornamos, ofendemos, traímos e fingimos ser o máximo. E no meio de tanta mentira, acabamos nos perdendo das nossas próprias e reais capacidades. Somos medíocres ao tentar não ser. Contradição absurda. Uma maioria que perde a paz e passa as horas sob a tensão de ser desmascarada. É uma bola de neve. Ansiedade, TOC, depressão, transtorno bipolar, insônia, cocaína, maconha, alcoolismo, cigarro, promiscuidade. Perdemos pra nós mesmos e corremos atrás de um prejuízo que não precisava existir. Torpe miopia! Fingimos ser aquilo que não somos para ser melhor perante todos, e tolos, não percebemos que ser a gente mesmo é ser melhor para nós, para o mundo, e, principalmente, para ser feliz...

Luciano Cazz

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